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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Anúncio Antigo 49: No Mundo de 2020 (Soylent Green)



Um dos primeiros filmes a fazer da questão ecológica um dos seus temas principais: "No Mundo de 2020" (Soylent Green, 1973). Uma visão absolutamente sombria do futuro da humanidade, é o que nos mostra esta produção norte-americana do início da década de 1970, que pretendia antever o mundo caótico e superpovoado do ano de 2022 (apesar do título em português estabelecer 2020). A poluição, a natureza destruída, a vida cotidiana profundamente deteriorada, sobretudo no aspecto alimentar e o crescimento descontrolado da população, consequências de uma industrialização predatória. Aliás, um dos grandes fantasmas do mundo nas décadas de 1960 e 1970 era a chamada "explosão populacional", que parecia confirmar as previsões catastróficas do pensador econômico Thomas Robert Malthus (1766-1834), ainda no início do século XIX, de que a humanidade crescia em proporção geométrica e a produção de alimentos em proporção aritmética. Sim, a teoria tão repetida nas aulas de história e geografia do ensino médio! Para que o leitor tenha uma ideia, alguns estudiosos (bem, nem tão estudiosos assim) previam que a Amazônia deveria ser uma região reservada para receber esse excedente populacional! Ou ainda de que a mesma poderia se tornar uma grande provedora de alimentos para a humanidade, uma espécie de "celeiro do mundo". Bem, tais previsões alarmistas não se confirmaram, pelo menos até o momento presente. 
Devemos também lembrar que, em junho de 1972, foi realizada em Estocolmo (capital da Suécia), a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, mais conhecida como Conferência de Estocolmo. A mesma foi o ponto de partida na busca por um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e a crescente degradação ambiental, que mais tarde evoluiu para a noção de desenvolvimento sustentável. Até então, a natureza era vista como fonte inesgotável de recursos, algo que, de forma bem dolorosa, se verificou não ser bem isso.



Mas, voltemos ao filme em questão (na foto acima, uma das cenas iniciais), que tem como pano de fundo os efeitos sociais dessa verdadeira catástrofe ambiental e populacional, mais precisamente na cidade de Nova Iorque, com os seus estratosféricos 40 milhões de moradores, segundo a previsão estabelecida na trama, baseada no livro Make Room! Make Room! do autor de ficção científica Harry Harrison. Uma massa de pessoas vagando pelas ruas, sem ter onde morar e nem onde dormir, utilizando as carcaças de automóveis abandonados como casa. Para conter essa enorme tensão social, uma polícia equipada para enfrentar distúrbios de rua, por meio de repressão violenta e uma alimentação especialmente feita para a plebe desafortunada: o soylent green. Uma espécie de ração em forma de biscoito, preparada por uma grande empresa de alimentação, a Soylent Corporation, a fim de alimentar essa população, que não dispunha mais de recursos para consumir carne, cereais e outros alimentos de melhor qualidade, os quais não estavam disponíveis para as pessoas de baixa renda. 



No início do filme, o executivo responsável pela citada corporação aparece morto, cabendo a um policial, o detetive Frank Thorn (interpretado por Charlton Heston), investigar a morte do ilustre cidadão. Thorn conta com a ajuda de seu velho amigo, Sol Roth (papel vivido pelo veterano ator Edward G. Robinson, em seu último trabalho), que descobre que o Soylent Green não era, como dizia a empresa, obtido do plancton vindo dos oceanos, o qual estava exaurido (na foto acima, os dois personagens, Sol e o detetive Thorn). A origem dos biscoitos verdes era outra, sendo que a descoberta deixou Sol profundamente chocado e deprimido. Para aqueles que tem interesse em ver o filme, este que vos escreve não revelará a verdadeira origem do produto, fato que marca o clímax da história.



Sol Roth gostava de lembrar ao detetive Thorn como o mundo era antes do desastre ambiental, de como os alimentos eram saborosos e acessíveis, algo que não ocorria mais (pelo menos para os pobres). Desiludido com a humanidade (ou com a falta da mesma), Sol resolveu aproveitar a oportunidade oferecida aos mais velhos pelo Estado, de praticarem a morte assistida, uma espécie de eutanásia. Por iniciativa própria, Sol se apresentou no local em que o seu desaparecimento deveria ocorrer. Os responsáveis ofereciam ao indivíduo uma morte suave e indolor, onde o mesmo era colocado dentro de uma câmara, podendo observar, em uma tela panorâmica, as imagens de um mundo que não existia mais: campos floridos, animais selvagens e paisagens naturais. Essa despedida do mundo era acompanhada da Sinfonia nº 6 de Beethoven (a Pastoral, que está associada à natureza). Em 20 minutos, a tal morte assistida era consumada! O detetive Thorn tentou dissuadir Sol da ideia, mas chegou tarde (na imagem acima, Thorn no hospital onde era praticada a quase eutanásia). Antes de morrer, Sol revela a Thorn a origem verdadeira do Soylent Green. Curiosamente o ator Edward G. Robinson, que interpretava o personagem, faleceu 12 dias depois do término das filmagens! A velha situação da vida imitando a arte (ou o contrário?).


Ao acompanhar o destino dado ao corpo de seu amigo, o detetive Thorn teve a confirmação do segredo do Soylent Green e dos motivos que levaram ao assassinato do executivo da corporação empresarial, no início do filme. Uma revelação estarrecedora! O filme deixa em aberto se a denúncia do detetive será ou não levada adiante, uma vez que Thorn termina ferido em uma perseguição promovida pelas autoridades, que não desejavam que o segredo fosse revelado (na imagem acima, Thorn ao lado da prostituta Shril, interpretada pela atriz Leigh Taylor-Young). 


No elenco secundário de "No Mundo de 2020" algumas figuras curiosas, como o ator de faroestes Chuck Connors (da série de televisão "O Homem do Rifle", na imagem acima à esquerda), o ex-Tarzan Mike Henry (que fez o homem-macaco em um filme rodado no Brasil, ao lado do ator Paulo Gracindo) e Whit Bissel (o general Kirk da série "O Túnel do Tempo") que interpreta o governador Santini, o qual ordena suspender as investigações sobre a morte do executivo da Soylent Corporation. Sim, a corrupção também era vista como algo que iria se agravar nas décadas seguintes!
Muitos viram nesse filme uma espécie de precursor de Blade Runner e de seu sombrio mundo do futuro. De qualquer forma, a produção recebeu alguns prêmios em festivais de ficção científica, tendo um lançamento discreto nos cinemas brasileiros, até chegar à televisão duas décadas depois. Recentemente, um certo prefeito da maior cidade do Brasil anunciou uma espécie de ração a ser distribuída como merenda escolar nas escolas públicas e imediatamente o filme foi lembrado, em função da similaridade entre as duas situações. 



O Anúncio Antigo de hoje, cuja qualidade de reprodução não está tão boa, foi publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", do dia 15 de janeiro de 1975. Por isso, reproduzo na imagem acima, o poster original. A película estava sendo exibida em duas salas da cidade São Paulo, hoje já extintas: o cine Gazeta (no famoso endereço da avenida Paulista, 900) e o cine Barão (na rua Barão de Itapetininga, hoje um calçadão no centro da cidade). Sim, o centro de São Paulo se deteriorou, exatamente como o centro de Nova Iorque no filme...
Crédito das imagens:
Cenas do filme: The Films of Charlton Heston de Jeff Rovin. Citadel Press, 1980. 
Cartaz original do filme: 
http://cinescopiotv.com/2015/05/05/classicos-esquecidos-mundo-de-2020/

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