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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Os Caminhos do Anhanguera: Cidades Históricas de Goiás




Nesta postagem estamos propondo mais um roteiro histórico. Vamos percorrer o caminho do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, em viagem que se constitui numa verdadeira aula de história e que ajuda a entendermos como se deu o processo de ocupação de uma vasta área de nosso território, da cidade de São Paulo até praticamente as bordas da Amazônia, passando pelo Centro-Oeste do Brasil. A cidade de Goiás Velho foi fundada por ele (na foto acima, a Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, cuja construção teve início em 1762). Mas, cuidado! De qual Anhanguera estamos nos referindo? O pai ou o filho? Bem, a rota percorrida pelos mesmos coincide, mas a fundação da antiga cidade de Goiás é atribuída ao Anhanguera filho. Não é por outro motivo que uma das mais importantes rodovias paulistas leva o nome de via Anhanguera, pois a mesma segue esse caminho. 



A historiografia nacional promoveu nas últimas décadas uma revisão a respeito do mito do bandeirante (no quadro acima, de Calmon Barreto, a representação tradicional dessa figura) e de como o mesmo correspondeu, em grande parte, a uma construção histórica, promovida principalmente pelos estudiosos paulistas do início do século XX, no sentido de destacar a iniciativa desbravadora dos ancestrais da antiga capitania de São Vicente (nome do território que correspondia a São Paulo, no início da era colonial). A crescente exaltação a essa figura correspondeu, na mesma proporção, à ascensão política de São Paulo durante a Primeira República (1889-1930). 



Sem a menor dúvida, as bandeiras alargaram o território brasileiro, mas também fizeram as suas vítimas, os índios aprisionados para serem vendidos como escravos e a perseguição aos africanos rebeldes, que resistiam ao cativeiro refugiando-se nos quilombos (como mostra o quadro acima, de Calmon Barreto). A trajetória dos bandeirantes é permeada pela violência, inclusive contra os padres jesuítas, os quais, a sua maneira, protegiam os índios nas conhecidas missões. A referência aos mesmos, que nos é dada nos documentos das outras áreas do Brasil colonial, não é das melhores, sendo muitas vezes difícil diferenciá-los de simples assaltantes ou ladrões! Por sua vez, a escassa população paulista da segunda metade do século XVI e do século XVII era, em geral, arredia ao controle institucional, tanto por parte do governo português como também da Igreja Católica, sobretudo em relação aos padres jesuítas (missionários da Companhia de Jesus), que condenavam a caça aos índios (preagem ou apresamento) para utilizá-los como mão de obra, muito embora não adotassem o mesmo critério protetor com relação aos africanos. Se levarmos em consideração a afirmação do historiador Luiz Felipe de Alencastro, os jesuítas toleravam e até estimulavam a escravização dos negros, para que os colonos não tivessem que recorrer aos índios, os quais deveriam permanecer sob os cuidados dos padres jesuítas. 
De qualquer forma, foi a partir desses pioneiros do sertão que tivemos o mapeamento de uma boa parte do nosso território; a ocupação de áreas que se situavam a oeste, muito além dos limites do Tratado de Tordesilhas (que separava os territórios portugueses e espanhóis desde os tempos da Expansão Marítima do século XV); a descoberta de ouro e o estabelecimento de povoamentos, muitos dos quais deram origem a importantes cidades brasileiras. 



Pois bem, um desses bandeirantes (palavra que, mais tarde, virou sinônimo de paulista) foi Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera pai (na foto acima, a casa onde teria vivido o Anhanguera, em Santana do Parnaíba, próxima à cidade de São Paulo). O primeiro integrante da família Bueno a chegar ao Brasil foi um tal de Bartolomeu Bueno, apelidado de o "Sevilhano", uma vez que o mesmo era procedente da cidade de Sevilha, na Espanha e chegou ao Brasil em 1582. Lembramos ao caro leitor, que nessa época teve início a chamada União Ibérica (também conhecida como Domínio Espanhol) promovida no reinado do rei Felipe II da Espanha, que assumiu o controle da coroa portuguesa, ampliando ainda mais o Império Espanhol. A "união" durou de 1580 a 1640, período no qual intensificou-se a presença de espanhóis na capitania de São Vicente. Esse primeiro Bartolomeu Bueno agregou Ribeira ao seu nome, uma vez que exerceu a função de carpinteiro de ribeira. De seu casamento com a paulista Maria Pires, o Sevilhano teve sete filhos, um dos quais foi  Amador Bueno da Ribeira, conhecido como o "Aclamado", pois na época do fim da União Ibérica, em 1641, alguns moradores da pequena vila de São Paulo (muitos de origem espanhola) chegaram a lhe oferecer o título de "rei", que o mesmo recusou, mantendo-se fiel à nova Dinastia de Bragança, que restaurou a autonomia de Portugal. Mas, foi o neto do Sevilhano, o já citado Bartolomeu Bueno da Silva, o primeiro a receber a designação de "Anhanguera". 


Bartolomeu Bueno residia em Santana do Parnaíba (SP) e foi deste pequeno povoado que, por volta de 1670, partiu a bandeira organizada por ele e formada por 150 pessoas, entre elas o seu filho adolescente, Bartolomeu Bueno da Silva Filho (que designaremos como Anhanguera II), o qual teria entre 12 e 15 anos (no quadro acima, de Calmon Barreto, Anhanguera pai e Anhanguera filho). Nessa época, estavam sendo intensificadas as buscas (prospecção) de metais preciosos no interior da colônia, o que não significa que os bandeirantes tenham deixado de lado o apresamento dos índios, aliás algo que era praticado há três gerações pela família Bueno. A maior parte dos integrantes das bandeiras era formada por índios e mamelucos (resultante da mistura de índios com brancos) recrutados para o trabalho pesado (carregadores), como cozinheiros e também como batedores (por conhecerem bem o sertão).
O trajeto percorrido por essa bandeira passava pelo Oeste Paulista, Triângulo Mineiro e a terra dos índios "Guyazes". Não, Bartolomeu Bueno não foi o primeiro a atravessar essas paragens. Desde o final do século XVI, os paulistas percorriam essas trilhas em busca de índios ou ainda atrás do mítico lago Dourado (local onde haveriam possíveis riquezas ou uma civilização desconhecida), o qual nunca foi encontrado.


Bartolomeu alcançou o rio Araguaia onde encontrou outra bandeira, a de Antonio Pires de Campos, que havia percorrido o atual Mato Grosso e que solicitou a Bartolomeu que o ajudasse a conduzir os seus índios cativos para São Paulo. Ao iniciar o retorno para as terras paulistas, Bartolomeu Bueno da Silva percorre o curso do rio Vermelho (na foto acima, trecho do rio que corta a cidade de Goiás Velho) e alcança a aldeia dos índios "Guyazes", com a esperança de encontrar ouro, principalmente segundo se supõe, após ter visto algumas índias dessa tribo com enfeites feitos com o valioso metal. 



Reza a tradição que, certo dia, ao deparar-se com um grupo desses índios às margens de um ribeirão, Bartolomeu os interrogou sobre a possível localização das minas. Sem conseguir uma resposta clara, o bandeirante utilizou um artifício para obter o que queria: ameaçou atear fogo nos rios! E para dar prova da ameaça, lançou água sobre um vaso e pôs fogo ao líquido, que na verdade, era álcool (na ilustração acima, de autoria de Vallandro Keating). Ao verem as chamas, os índios imediatamente teriam gritado:
- Anhanguera, Anhanguera!!!!!
Em uma tradução aproximada, algo como "diabo velho" ou "espírito mau". Claro, existem dúvidas sobre tal história, mas uma coisa é certa, os índios que acabaram dando nome a toda aquela região, o hoje estado de Goiás, foram as grandes vítimas dessa incursão do Anhanguera. Os mesmos revelaram o local onde existiria o ouro de aluvião (retirado do leito dos rios), mas mesmo assim, foram aprisionados e marcados a ferro quente, como gado. O Anhanguera tinha costume de fazer isso para registrar que os índios eram sua propriedade! No trato com o gentio (índios), o Anhanguera seguia o procedimento de seu pai Francisco Bueno, filho do Sevilhano. Há quem diga, como o escritor paulista Pedro Taques, o primeiro a exaltar as façanhas dos bandeirantes ainda no século XVIII, que o estratagema de colocar fogo na "água" deveu-se a outro bandeirante, Francisco Pires Ribeiro... Pode ser que Bartolomeu Bueno o tenha imitado. O Anhanguera retornou a São Paulo e não empreendeu nova expedição ao sertão de Goiás. A data exata de sua morte é desconhecida.



A preocupação maior das expedições bandeirantes, no início do século XVIII, era o ouro da nova capitania das Minas Gerais, que acabava de ser separada de São Paulo (acima, a exploração do ouro de aluvião, em quadro de Calmon Barreto). Contudo, quando esta área foi quase completamente devassada, a atenção voltou-se para Goiás. E olhem quem foi o protagonista dessa nova investida, Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, anos depois de ter participado da viagem com o pai. Em 1722, após obter autorização do rei de Portugal Dom João V para empreender a bandeira, o Anhanguera II seguiu em direção ao sertão goiano. Sem poder custear sozinho a empreitada, associou-se a alguns parentes, entre eles o seu irmão Simão Bueno, os genros João Leite da Silva Ortiz e Domingos Rodrigues do Prado, o cunhado  Manoel Pereira Calhamares e mais dois sobrinhos. Padres também participaram da expedição. 



O número de integrantes dessa bandeira é controverso, talvez algo entre 150 e 160 homens. Documentos posteriores citavam que a expedição contava também com 39 cavalos, 152 armas, 20 índios, um número não revelado de escravos e vários cachorros. As armas levadas eram as mais variadas possíveis, incluindo arcabuzes (arma de fogo com cano curto), arco e flecha (usado tanto por índios como por brancos), sabre curto (usado em combate corpo a corpo) e o mosquetão (arma de fogo comprida, que lembra a espingarda moderna, porém muito pesada). Para proteger o corpo contra as flechas dos índios era comum o uso do gibão, uma proteção de couro grosso que cobria do pescoço à cintura (como aparece na ilustração acima, de autoria de Vallandro Keating) e ainda da gualteira, uma proteção de pele de anta sobre a cabeça.
Há muitas dúvidas em relação à data certa da partida dessa bandeira, talvez junho ou julho de 1722. José Peixoto da Silva Braga (que depois desertou da expedição) deixou um relato do trajeto do Anhanguera II. O caminho de "Goyazes" começava em Jundiaí, seguindo para outra povoação chamada Mogi-Guaçu. Depois, partia-se em direção a uma área de clareiras no meio da mata (as "campinas", que deram origem à cidade do mesmo nome), avançando sertão adentro até o rio Grande (atual divisa entre São Paulo e Minas Gerais). Os bandeirantes andavam aproximadamente dez quilômetros por dia. Era comum alguns integrantes das bandeiras pararem no caminho e iniciarem a plantação de roças, para dar provisão aos que iam adiante e também aos que retornavam. Algumas delas, de acordo com o tipo de produto que era cultivado, acabaram dando nome a vilas e futuras cidades, como Batatais, no interior de São Paulo. Diante da possibilidade da fome, da sede, da ameaça dos índios, sempre ocorriam deserções, como a do próprio Silva Braga. 






O Anhanguera II jurava que só voltaria para São Paulo após ter encontrado as minas. Em função de sua teimosia e arrogância, teria sofrido uma ameaça de motim, na qual poderia ter perdido a vida, não fosse a presença do genro Silva Ortiz. O objetivo do Anhanguera II era voltar ao exato local em que seu pai encontrara os índios Goyazes. O bandeirante conseguiu, finalmente, alcançar o curso do rio Vermelho e o local da tribo Goyá, em 1726, onde foi fundada Vila Boa de Goiás, hoje Goiás Velho (acima, Vila Boa em desenhos datados de 1751). 
Vários arraiais (assentamentos) surgiram para explorar o ouro do rio Vermelho. O Anhanguera II ainda retornaria a São Paulo em 1728, pretendendo cobrar do governador a promessa de ser nomeado superintendente das minas de Goiás. Repare o caro leitor, que, naquele momento, todo esse território pertencia a São Paulo e estava sob a jurisdição do então governador Caldeira Pimentel. Este reluta em conceder ao Anhanguera II as honrarias prometidas pelo seu antecessor, as quais estavam amparadas em decisão régia. Exatamente por isso, o velho bandeirante acabou recebendo os títulos de capitão-regente e superintendente-geral das minas de Goiás tendo ainda, entre outros, o poder de conceder sesmarias (terras). O Anhanguera II não teve nenhum pudor em aderir ao nepotismo, nomeando vários parentes para os principais cargos, entre os quais o genro Silva Ortiz, o que causou ressentimentos entre os seus companheiros. Por outro lado, existem controvérsias a respeito das acusações que partiram do governador de São Paulo, Caldeira Pimentel, em relação ao Anhanguera II e que diziam ter sido este um mal administrador. Caldeira Pimentel chegou a acusar o bandeirante de tentar organizar um levante dos paulistas em Goiás, semelhante ao ocorrido nas Minas Gerais com a Guerra dos Emboabas. De qualquer forma, o Anhanguera II caiu em desgraça perante as autoridades de São Paulo e foi destituído dos cargos que ocupava em 1733, pelo novo governador Luís da Távora, o Conde de Sarzedas e sendo intimado a pagar uma enorme quantidade de impostos que estariam em atraso. Sem os seus antigos poderes e pobre, Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o Anhanguera II, faleceu em Goiás Velho, no dia 19 de setembro de 1740. 



Em 1736, Goiás Velho foi elevada à condição de vila administrativa recebendo o nome de Vila Boa de Goyaz e ainda pertencendo à Capitania de São Paulo. Em 1748 foi criada a Capitania de Goiás e nomeado o seu governador, Dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos, que chegou na região cinco anos depois  (na pintura acima, Vila Boa de Goyaz em 1803). 
Bem, vamos agora à nossa sugestão para um belo passeio histórico! O roteiro que estamos propondo segue aproximadamente o trajeto do Anhanguera II e portanto deve ser feito por via terrestre. Claro, o eixo é a rodovia que carrega o seu nome (e de seu pai): a via Anhanguera. Vale lembrar os rios que devem ter se colocado no caminho do Anhanguera: rio Jundiaí, rio Mogi-Guaçu, rio Pardo, rio Grande e o caudaloso Paranaíba (na atual divisa dos estados de Minas Gerais com Goiás). Entre São Paulo e o Triângulo Mineiro sugerimos uma parada para descanso, ou em Ribeirão Preto ou em Uberaba, pois estão situadas quase a meio caminho. 
Embora seja uma cidade que não está associada à bandeira do Anhanguera, Araxá, no Triângulo Mineiro, merece uma visita. A mesma têm a sua origem na fase final do ciclo do ouro (na década de 1790) quando os primeiros povoadores buscavam alternativas ao declínio da mineração através da pecuária. A cidade guarda algumas referências a esse período, embora o seu crescimento desordenado e sem maiores preocupações na preservação de suas construções históricas, tenha absorvido o legado de seu passado. A cidade é muito associada à figura de uma mulher, que adquiriu projeção social na região no início do século XIX: Dona Beja. Analfabeta e mãe solteira, ficou conhecida por seus muitos amores, a ponto de sua vida ter inspirado uma novela, na década de 1980 (a personagem foi vivida pela atriz Maitê Proença).


A sua antiga residência (foto acima) abriga um museu que, no presente momento, está fechado para reparos, sem previsão de abertura. 



Outro local interessante é a fonte Dona Beja, no Barreiro, local onde se acreditava que a conhecida personagem costumava se banhar (na foto acima, azulejos pintados representando a personagem na Fonte Dona Beja). 






Se puder, visite em Araxá o Museu Calmon Barreto, que abriga as obras do artista de mesmo nome. Trata-se de um pintor acadêmico de grande qualidade, formado na Escola Nacional de Belas Artes (RJ) e que trabalhou no setor de desenho e gravuras na Casa da Moeda (RJ). Calmon Barreto foi também um grande ilustrador. O ponto alto de seu trabalho como pintor são as "marinhas" (paisagens a beira-mar) que revelam o enorme repertório de cores de sua paleta (como nos trabalhos mostrados mais acima). As pinturas históricas dos bandeirantes, mostradas nesta postagem, são de sua autoria. No final de sua vida retornou para Araxá, onde faleceu em 1994.



Ainda em Araxá temos a Igreja de São Sebastião (foto acima) onde se encontra um pequeno Museu Sacro. Como podemos observar, a construção está requerendo manutenção e restauro. 
Mas, retomemos a trilha do Anhanguera. Em direção a Goiás pelas BRs 452 e 153, rodovias que se encontram bem cuidadas e seguras, acesse em Goiânia a rodovia GO-070, que leva à cidade de Goiás Velho, que já foi capital do estado do mesmo nome. A cidade é simples, pacata, acolhedora e acessível a todos os bolsos.


No centro histórico, um marco importante, o local onde se encontra a "Cruz do Anhanguera", uma réplica da mesma (a original está no museus das Bandeiras). O monumento é a porta de entrada do centro histórico de Goiás Velho.


Sugerimos começar o passeio visitando a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte (na foto aérea cima, a Igreja da Boa Morte, do lado esquerdo, na bifurcação), cuja construção teve início em 1762 e concluída em 1779. A mesma abriga em seu interior o Museu de Arte Sacra e as obras de um grande artista barroco: o escultor Veiga Valle. O artista viveu no século XIX e foi uma figura de grande projeção social, em uma época na qual os afrodescendentes não tinham oportunidades na sociedade, que ainda era escravista. Sua obra, de grande qualidade, ainda é pouco conhecida fora de Goiás e reflete a existência de um Barroco tardio, posterior ao mineiro da época de Aleijadinho. Consideramos a obra deste artista tão significativa, que merece uma postagem a parte e que deverá ser feita em breve.




Seguindo adiante pela mesma rua do Museu de Arte Sacra alcançaremos a Praça Doutor Brasil Caiado, onde iremos encontrar o Chafariz de Cauda, construído em 1778 e destinado originalmente aos animais (nas fotos cima, o chafariz no início do século XX e atualmente).


Quase em frente ao chafariz, encontramos o casarão histórico que abriga o Museu das Bandeiras (foto acima). Originalmente a Câmara Municipal da antiga Vila Boa de Goiás e Cadeia (na parte térrea), cuja construção teve início em 1761 e concluída em 1766. Trata-se de uma visita obrigatória! 





As condições dadas aos presos até a época em que foi desativada, em meados do século XX, eram absolutamente abomináveis, tendo os mesmos que conviver com a sujeira (não havia banheiro), além de enfrentar a presença de ratos e baratas (nas fotos acima, o portão e a cela coletiva).


Os relatos dos próprios presos mostravam as condições deploráveis da prisão (como no bilhete de um detento, requerendo um tratamento melhor por estar doente, na foto acima).



Por outro lado, o Museu das Bandeiras guarda relíquias preciosas da época da exploração do ouro, como instrumentos de garimpo: a conhecida bateia e as balanças para a pesagem das pepitas de ouro (respectivamente, nas fotos acima).






Instrumentos para castigar escravos, móveis do século XIX e entalhes em madeira feitos para igreja (respectivamente nas fotos acima) compõem o precioso acervo do Museu das Bandeiras, que também conta com um arquivo de documentos disponível para a pesquisa historiográfica.


O Palácio do Conde dos Arcos, construído no século XVIII, serviu de residência para os governadores da antiga Capitania de Goiás. Ainda serve de casa aos atuais mandatários do estado, quando estão de visita pela cidade e possui um acervo de peças e mobiliário aberto à visitação.


Outro local interessante para visitação é o Instituto Bertran Fleury, que abriga um acervo de livros e documentos que pertenceram ao ensaísta e historiador Paulo Bertran, o qual deixou uma grande obra referente à história e ao povoamento de Goiás. Dentro do mesmo, existe uma aconchegante pousada (Pousada Dona Sinhá), instalada em um casarão do século XVIII (foto acima). Aliás, recomendamos a mesma pelo seu ótimo ambiente, localização e preço acessível.



Para que o visitante possa fazer lanches rápidos ou para experimentar o tradicional "empadão" goiano, a dica é o antigo Mercado Municipal, que foi completamente remodelado para abrigar pequenas lanchonetes e lojas de artesanato (nas fotos acima, o Mercado Municipal antigo e restaurado). Portanto, uma boa opção de compras!




Claro, o passeio a Goiás Velho não poderia ser concluído sem uma visita à casa da poetisa e escritora Cora Coralina (1889-1985), cujo nome verdadeiro era Ana Lins dos Guimarães Peixoto (nas fotos acima, a casa onde viveu nos seus últimos anos e a simpática rua). 
Desde a sua juventude, Cora demonstrava aptidão para a atividade literária, mas foi a partir de 1980, quando começou a travar contato com o também escritor Carlos Drummond de Andrade, que a autora ficou conhecida do grande público e da crítica literária. A sua consagração veio com o prêmio Juca Pato, como Intelectual do Ano, em 1983. A sua casa, construída no século XVIII, abriga um museu para preservar a sua memória e encontra-se exatamente como estava até os últimos dias de vida da escritora, apesar de ter sido atingida por uma grande enchente em 2001.


Segundo dizem alguns historiadores, Cora Coralina (foto acima) seria octaneta do Anhanguera II.





Esta postagem faz uma homenagem à grande escritora e poetisa, deixando para o caro leitor uma pequeno texto, escrito em 1961, onde notamos o grande talento de Cora ao referir-se a coisas tão simples, como o milho. A leitura poderá ser feita na própria caligrafia de Cora Coralina, pois se trata de um manuscrito da própria autora (na sequência acima, as três páginas do texto "Oração do Milho", escrito em 1961). 


Nosso destino final nessa jornada histórica é Pirenópolis, mais conhecida como "Piri" (na imagem acima, maquete do centro histórico). A sua origem remonta ao ano de 1727, quando ficou conhecida como Arraial de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte. Contudo, alguns estudiosos apontam o seu surgimento em 1731. Portanto, trata-se de mais uma povoação constituída na fase de exploração do ouro em Goiás. Alguns de seus fundadores eram bandeirantes ligados ao Anhanguera II, entre eles Urbano do Couto Menezes. Algo a ser melhor pesquisado é a forte influência de algumas tradições ibéricas na cidade (da parte de espanhóis ou catalães), a começar pelo próprio nome, uma referência aos montes Pirineus que separam a Espanha da França (nome também dado às elevações e formações rochosas próximas à cidade) e o festival das Cavalhadas, os quais nos referiremos mais adiante.





A primeira atração que desponta é a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, construída entre 1728 e 1732 e restaurada após um terrível incêndio ocorrido em 2002. Apesar do delicado trabalho dos restauradores, o que temos é o "esqueleto" arquitetônico da igreja, que mesmo assim, manteve o seu aspecto imponente e de referência do centro histórico (nas fotos acima, a Matriz no início do século XX e hoje).


A Igreja Nossa Senhora do Carmo (na foto acima o altar da mesma) erguida pelos escravos em 1750, abriga o pequeno, porém valioso Museu de Arte Sacra.



O acervo contém obras de grande significação no Barroco goiano (nas fotos acima, uma imagem de Santo Emídio, do século XVIII de autor desconhecido e Santa Tereza D'Ávila do escultor goiano Veiga Valle, feita no século XIX). 


Outro bom exemplo da arquitetura barroca local é a Igreja Nosso Senhor do Bonfim, que requer uma boa caminhada para alcança-la. 



No trajeto, o visitante é recompensado pelos belos exemplos da bem cuidada arquitetura das casas em estilo colonial (imagens acima).




Finalmente, as Cavalhadas (fotos acima)! Realizadas anualmente no mês de junho, em uma arena especialmente mantida para o evento, as mesmas marcam uma lembrança da conhecida Guerra de Reconquista entre cristãos e mouros (muçulmanos), travadas na Península Ibérica nos últimos séculos da Idade Média. Acredita-se que o evento tenha tido a sua origem em 1826, por iniciativa do padre Manuel Amâncio da Luz. Uma advertência aos espíritos mais sensíveis com relação aos animais, a maioria dos cavaleiros utiliza esporas para conduzir os cavalos, algo que não deve ser muito agradável, nem para quem assiste e nem para os pobres animais. Talvez os organizadores do evento possam rever o uso desse primitivo dispositivo para o futuro.
Ainda se desejar, o visitante de Pirenópolis pode desfrutar de um banho natural em uma das inúmeras quedas d'água existentes nos arredores da cidade. Uma excelente opção para encerrar a jornada...
Como chegar (partindo de São Paulo):
Até Araxá (MG): rodovia dos Bandeirantes, rodovia Anhanguera e MG 262 (pouco antes de Uberaba). 
Até Goiás Velho (GO): BR 452 (a partir de Uberaba), BR 153 e GO-070 (a partir de Goiânia).
Até Pirenópolis (GO): BR-070 (partindo de Goiás Velho). 
Sugestão de dias:
1 dia em Araxá, 4 dias em Goiás Velho e 3 dias em Pirenópolis. 
Crédito das imagens:
Fotos de Cora Coralina e de seu texto "Oração do Milho": Cora Coralina. Catálogo produzido pelo próprio museu da escritora. 
Todas as demais imagens: acervo do autor. 

6 comentários:

  1. Brilhante relato de uma viagem a história

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  2. Obrigado Waltércio Zanvettor por sua leitura e ecomentário. Um grande abraço.

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  3. Notável relato sobre a história do desbravamento de Goiás. Bastante didático e de fácil leitura, muitíssimo bem ilustrado com as imagens históricas. Busco também informações sobre a história dos riquíssimos sertões de Goiás um pouco mais ao Norte, mais precisamente sobre o arraial de Água Quente com sua famosa Cachoeira do Machadinho no Rio Maranhão, arraial de Trahiras e arraial São José do Tocantins, todos no então município de Trahiras (atual município de Niquelândia), arraiais esses que foram elevados a villa no ano de 1755, auge da extração de ouro naquela região.

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  4. Parabéns pelo didático e rico trabalho (texto). Vou aproveitar três fotos tuas (escritos da Oração ao Milho) - devidamente apontando a fonte: Blog "História Mundi", edição 22/09/2017, 'Os caminhos de Anhanguera: cidades históricas de Goiás) - para inclusão em um singelo trabalho que estou concluindo ("Cora Coralina...Uma poeta que fascina!"). Poderia? Se me mandares teu endereço, quando o livro ficar pronto, te mando um exemplar. Meu e-mail: parusinho@gmail.com Um grande abraço. Helinho Lange

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    1. Olá Parusinho. Fico muito feliz pelo seu comentário. Claro que pode utilizar, o blog está aqui para isso. Claro, que com os devidos créditos fico agradecido. Mas está autorizado e parabéns pela sua obra, a qual aguardo com enorme interesse. Um fraternal abraço!!!!!

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