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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Anúncio Antigo 35: Volkswagen SP2



Um carro esporte concebido no Brasil pela conhecida montadora alemã, a qual, devemos lembrar, nasceu dos sonhos da ditadura totalitária de Adolf Hitler, de que todo cidadão alemão deveria ter o seu automóvel. Daí veio o nome do modelo destinado a esse fim: Volkswagen ou carro do povo, em uma tradução literal. Após a Segunda Guerra Mundial, o conhecido "fusquinha" ganhou o mundo e, sobretudo, caiu nas graças dos brasileiros. A imagem da fábrica alemã se firmou no Brasil em torno desse modelo, simples e de fácil manutenção, originalmente projetado por Ferdinand Porsche, que depois emprestou o seu sobrenome aos automóveis esportivos e de grande desempenho.
Mas, no início da década de 1970, a Volkswagen do Brasil resolveu investir em um modelo voltado para o público que buscava um carro esportivo, diferente dos veículos mais robustos e econômicos que a fábrica havia apresentado até aquela época. O Karmann Ghia não era tido, de fato, como um modelo verdadeiramente esportivo e a fábrica resolveu apostar em algo novo. Daí surgiu o projeto do SP2 (na imagem acima, anúncio de lançamento do modelo). Até hoje, existe uma controvérsia a respeito do significado da sigla SP. Para alguns seria "Sport Protótipo" e outros defendem que significava simplesmente São Paulo, em alusão à localização da fábrica, no município de São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo. 



Entre as montadoras que estavam instaladas no Brasil, a Volkswagen era a que mais concedia autonomia para a sua subsidiária, inclusive no que dizia respeito a pequenas alterações no desenho dos modelos fabricados aqui. Em 1969 chegou ao ponto de permitir a produção de um automóvel totalmente concebido no Brasil, exatamente o SP-2 (na foto acima, a parte dianteira do veículo).


Contudo, existem informações de que o presidente da Volkswagen brasileira desde 1967, Rudolf Leiding, teria ouvido em uma conversa, a afirmação de que a fábrica alemã não tinha capacidade para produzir um carro igual ao Puma GT 1500, com uma carroceria feita de plástico e reforçada com fibra de vidro. O SP2 foi a resposta a esse desafio (na imagem acima, a lateral e a traseira do SP2). 


Existe ainda uma outra versão. O motivo da irritação de Leiding foi o fato da Ditadura Militar ter imposto à montadora alemã a obrigação de dar suporte técnico e mecânico (inclusive o motor) à fabricante nacional Puma (na imagem acima, o modelo mais conhecido da fábrica, o Puma GTS versão Spider, em um processo de restauro, em Itu, interior de São Paulo). Comentava-se que um dos sócios da Puma, Luiz Roberto Alves da Costa, era influente no Governo Federal e também junto ao presidente, o marechal Arthur da Costa e Silva (que governou de 1967 a 1969). De qualquer forma, Rudolf Leiding deu sinal verde para o desenvolvimento da ideia de um carro esportivo para a sua equipe de projetistas. A proposta do desenho, que foi a característica marcante do SP2, foi feita pela equipe de desenhistas encabeçada por Márcio Piancastelli e teria sido inspirada em um projeto italiano, o do Chevrolet Corvair Testudo, com motor traseiro.
A ideia inicial era lançar duas versões: o SP1 e o SP2. O SP1 era uma versão básica, do qual foram produzidos apenas 168 unidades, sendo em razão disso, um item raro entre os colecionadores de hoje. O seu motor tinha apenas 1.584 cm³ com 54 cavalos de potência, igual ao da perua Variant, sendo inferior aos 1.679 cm³ e 65 cavalos de força do seu "irmão maior", o SP2. Para a época, era uma boa potência para os veículos fabricados no Brasil (os importados eram raríssimos), embora hoje um automóvel de mil cilindradas consiga a mesma perfomance, com a velocidade máxima de 154 km/hora, a mesma do SP2.


Lançado no final de 1972 e apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, ainda naquele ano, representou uma grande novidade no mercado automotivo do país. O mentor do projeto, Rudolf Leiding já havia retornado para a Alemanha para assumir a direção da Audi, outra subsidiária da Volkswagen, e em função da troca na direção da empresa, o lançamento sofreu um atraso. No final de 1972, quando o carro foi apresentado, chamou a atenção da imprensa especializada, com o seu interior requintado e um acabamento superior à média dos veículos fabricados no Brasil, naquele momento. O SP2 tinha bancos de couro opcionais e um painel com muitos instrumentos (imagem acima), podendo sair de fábrica já equipado com o rádio.


Contudo, o modelo não conseguiu superar o seu maior rival, o Puma, em termos de desempenho. Isto por uma razão simples, apesar do motor ser o mesmo, o Puma era feito em fibra de vidro, muito mais leve do que o aço que era empregado no SP2. Tal diferença de desempenho acabou dando margem a uma piada maldosa de que, na verdade, SP significava "Sem Potência". A relação desempenho e preço também não era boa, pois pelo mesmo valor desse veículo era possível adquirir dois "Fuscas" 1.300. Dessa forma, o SP2 saiu de linha no final de 1975. A produção total do SP2 alcançou 10.207 unidades, algumas das quais foram exportadas para a Europa. Hoje, o carro é muito valorizado entre os colecionadores (na foto acima, uma maquete do modelo de 1973). A montadora chegou a cogitar na possibilidade de continuar a produção do modelo, tentando resolver o seu principal problema enquanto veículo esportivo: o do desempenho. Um motor 1.8 (o mesmo do Passat TS) seria instalado e o modelo passaria a se chamar SP3. Contudo, os custos elevados para a colocação dessa versão em uma linha de produção levaram a montadora a abortar o projeto e, assim, o SP2 encerrou definitivamente a sua história.
Uma outra piada era contada entre os meus colegas de escola, no meu já distante ginásio da primeira metade da década de 1970:
- Você veio para a escola de carro ou de ônibus? Resposta:
- Eu vim de "S Pé dois".....
O Anúncio Antigo de hoje, veiculado no final do ano de 1972, está reproduzido na coleção "Carros Inesquecíveis do Brasil" da editora Altaya, fascículo correspondente ao Volkswagen SP2, bem como as fotos do veículo e de seu painel. 
Um agradecimento especial ao meu amigo e comentarista de Fórmula 1, Wilton Sturn, por ter disponibilizado a foto de seu Puma GTS Spider 1978, de sua coleção particular.
A maquete do SP2 pertence ao acervo deste autor. 




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