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sábado, 27 de outubro de 2012

Anúncio Antigo 24: as eleições de 1982


 

No Anúncio Antigo de hoje vamos lembrar as eleições para governador de São Paulo de 1982. O país vivia os derradeiros suspiros da Ditadura Militar comandada por seu último general, João Baptista Figueiredo. A abertura transcorria como prevista pelo ex-presidente Ernesto Geisel e por seu braço direito, o general Golbery do Couto e Silva: "lenta, gradual e segura". E ponha lenta nisso. As primeiras eleições diretas para presidente vieram apenas em 1989, sendo que a Ditadura havia terminado em 1985. Em um período de 10 anos vieram o fim da censura; do AI-5 (Ato Institucional que permitia a cassação de parlamentares pelo presidente, entre outras coisas); a anistia aos presos políticos, mas sem punições aos criminosos e torturadores; a reforma partidária que pôs fim ao bipartidarismo (e que fez surgir muitos dos partidos que ainda estão por aí, entre eles o PMDB, o PT, o PTB e o PDT) e finalmente a eleição direta, mas em um primeiro momento apenas para governador de Estado. Eleição para as prefeituras das capitais veio somente em 1985.
A reforma partidária em 1979 foi uma tentativa de perpetuar ainda mais a Ditadura Militar, pois manteve o partido do governo, chamado de PDS (Partido Democrático Social, que na verdade era a antiga ARENA) e que na prática desmembrou o antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) para que surgissem os demais partidos de oposição. A eleição de São Paulo foi importante para testar esses novos partidos e se a estratégia de manter o partido do governo forte funcionaria. Era também a oportunidade para a oposição do antigo MDB, que foi capitaneado pelo deputado federal Ulysses Guimarães, de obter o controle do Estado politicamente mais importante da federação.



Em São Paulo, os candidatos mais fortes eram Franco Montoro pelo PMDB e Reynaldo de Barros (imagem acima, na década de 1990, quando foi secretário de Maluf na Prefeitura de São Paulo) pelo PDS. Os demais teriam poucas chances, entre eles, Luis Ignácio "Lula" da Silva pelo PT, o ex-presidente Jânio Quadros pelo PTB (Jânio fazia o seu retôrno à vida política após o afastamento imposto pela Ditadura) e Rogê Ferreira pelo PDT. A eleição ainda incluia a escolha de deputados federais e o destaque, no caso de São Paulo, foi o ex-governador Paulo Maluf, com o seu número muito fácil de guardar: 111. Lula e o Partido dos Trabalhadores passaram pela primeira grande experiência nas urnas e os candidatos da legenda, em grande parte, vieram dos sindicatos e das lideranças trabalhistas. O partido fazia jus ao nome. O bordão da campanha era: "Trabalhador vota em trabalhador, Lula para governador". Em sua primeira experiência eleitoral, Lula obteve o quarto lugar. Naquele momento havia muita resistência por parte do eleitorado conservador ao discurso radical do PT e a candidatos oriundos da classe operária.
A grande expectativa que existia era com relação à sucessão do general Figueiredo e como esta seria encaminhada. Seria a reta final da abertura ou o prolongamento da Ditadura por meio de um candidato civil apoiado pelos militares e eleito pelo Colégio Eleitoral (Congresso e delegados estaduais que na época elegiam, por via indireta, o presidente)? Neste último caso, um nome já estava sendo colocado, o do ex-governador de São Paulo, Paulo Salim Maluf. Bem, o que veio depois já virou história. A emenda do deputado federal Dante de Oliveira que previa as eleições diretas foi rejeitada pelo Congresso em 1984 e a eleição acabaria sendo indireta com a vitória de Tancredo Neves do PMDB sobre Paulo Mafuf (que não conseguiu unir todo o PDS em torno de seu nome e gerou dissidências que possibilitaram a eleição de Tancredo).
O destaque da eleição para governador daquele distante ano de 1982 (há exatos trinta anos) foi a vitória oposicionista nos Estados mais importantes. Em São Paulo, Franco Montoro derrotou Reynaldo de Barros, em Minas Gerais venceu Tancredo Neves, no Paraná a vitória foi de José Richa e no Rio de Janeiro... Bem, no Rio existe até hoje uma história mal contada das apurações que teriam sido manipuladas, com o apoio da TV Globo, para impedir a eleição de Leonel Brizola do PDT. Ao final da contagem, a sua vitória acabou sendo confirmada.
Embora tenha obtido 59% dos votos em todo o país, a oposição (que agora contava com o PT, PTB, PDT, além do PMDB) não conseguiu a maioria no Congresso Nacional (considerando Câmara e Senado juntas) e no Colégio Eleitoral que deveria escolher o novo presidente em 1985. A Ditadura Militar entrava em uma agonia prolongada.



De qualquer forma, a oposição capitaneada pelo PMDB obteve uma importante vitória em São Paulo. Esse partido era ainda formado pelo chamado "MDB histórico", com Ulysses Guimarães, Montoro, Tancredo Neves, Freitas Nobre, Orestes Quércia e que representava a esperança de reverter os descaminhos dos governos ditatoriais. Montoro (na imagem acima, quando era governador) recebeu um Estado cheio de dificuldades em função da gestão malufista, que o antecedeu e teve que passar boa parte do governo colocando as finanças em ordem. Além disso, o país se encontrava em recessão e com os problemas decorrentes da dívida externa, o que reduziram as possibilidades de novos investimentos. Além, é claro, da inflação. Montoro dizia ter feito um governo de "pequenas obras" e não as "obras faraônicas" e dispendiosas de seu antecessor. Aliás dois antecessores, Maluf (que deixou o Governo para concorrer a deputado) e José Maria Marin, que era o vice de Maluf e terminou o seu mandato (ele mesmo, que agora é presidente da CBF). Montoro pagou um alto preço por isso, mas o PMDB conseguiu eleger o sucessor, Orestes Quércia. Aliás, foi a eleição seguinte para governador, em 1986, que gerou a dissidência dos históricos do PMDB com Quércia, que se assenhoreou do partido. A dissidência formou depois o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). O "PMDB histórico", como o próprio termo indica, ficou na história...
O Anúncio Antigo de hoje foi publicado no jornal "O Estado de São Paulo" de 12.11.1982.
Crédito das imagens: Revista Veja (Reynaldo de Barros) e Wikipédia (Franco Montoro).

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