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sábado, 9 de junho de 2012

A novela Gabriela: versão 1975





Mais um "remake" de novela da década de 1970. Depois de "O Astro" é a vez de "Gabriela", sucesso de 1975 e que transformou a atriz Sonia Braga em estrela nacional e até mesmo, internacional. A história foi baseada no romance do escritor baiano Jorge Amado, "Gabriela, Cravo e Canela", um dos grandes êxitos literários do autor. Na época, o lançamento foi associado às comemorações dos dez anos de existência da TV Globo. Para todos aqueles que, como eu, têm na memória a primeira versão, a comparação com a nova adaptação será cruel. "Gabriela" pode ser colocada como um dos maiores êxitos da teledramaturgia nacional e contou com um elenco impecável, o que ajudou em muito no sucesso da trama, que naquela época, era exibida como a novela das dez horas da noite e destinada a um público mais adulto. 




Impossível não lembrarmos do grande Paulo Gracindo no papel do coronel Ramiro Bastos, do excelente Armando Bogus como o turco Nacib  (na foto acima ao lado de Sonia Braga), de Heloisa Mafalda como a dona do bordel Bataclan, Maria Machadão (que agora será vivida pela estreante Ivete Sangalo), de José Wilker como o dr. Mundinho, só para citar alguns. Essa novela foi aquele caso no qual todo o elenco parecia estar em perfeito entrosamento, todos deram conta de seus personagens. 
A trama foi ao ar entre janeiro e maio de 1975. A adaptação do romance foi feita por Walter George Durst e a direção de  Walter Avancini com um total de 132 capítulos. Foi a primeira novela da Globo a ser exibida em Portugal e ainda inspirou um filme homônimo, dirigido por Bruno Barreto, tendo a própria Sonia Braga no papel título e, pasmem, o ator italiano Marcello Mastroianni como Nacib. 
Da mesma forma que está ocorrendo hoje em relação à atriz Juliana Paes, Sonia Braga não era unanimidade para o papel principal. Um dos motivos alegados era o fato da atriz não ter a pele mais escura para caracterizar a personagem Gabriela. Isso foi resolvido com uma tintura para bronzeamento da pele que deu um ar mais brejeiro para a atriz. 
Por outro lado, devemos também lembrar o contexto da época. Em 1975, o país começava a falar em "distensão" e "abertura" na então prolongada Ditadura Militar (1964-1985) comandada pelo general de plantão, Ernesto Geisel. Apesar da história referir-se ao tempo do coronelismo na Primeira República (1889-1930), ela também refletia alguns aspectos da realidade política e social do Brasil daqueles tempos ditatoriais. Os opositores dos coronéis do cacau em Ilhéus, no Sul da Bahia, buscavam  uma maior participação política com seus discursos e jornais de oposição, como no Brasil o partido da oposição, o MDB, também buscava no Congresso acelerar o processo de abertura política. 
No plano social, a luta das mulheres pelo direito de decidirem o próprio destino, livres do forte patriarcalismo que imperava na década de 1920, tinha eco na realidade da época, onde o assassinato de uma mulher por ter cometido adultério ou a simples traição ainda eram respaldados na tese da defesa da honra pelo homem (é só lembrarmos o caso da socialite Angela Diniz, morta pelo namorado "Doca" Street dois anos depois, em 1977). Temas como esse e a liberdade de imprensa foram colocados no ar em plena época da censura, pois também eram tratados na obra literária que inspirou toda a trama. 
Difícil não associar a perseguição aos jornalistas de oposição na novela com um fato real que ocorreu no final daquele ano, depois da novela ter terminado, que foi a morte de Vladimir Herzog e a prisão de vários outras jornalistas em um dos últimos suspiros violentos da então ditadura, já agonizante. 



Combinando tudo, a trilha sonora, também excepcional e criando todo o clima que envolvia o ambiente dos personagens. Nomes importantes da MPB, como Maria Bethânia, Moraes Moreira (em um belo solo no "Guitarra Baiana"), João Bosco, Alceu Valença, a então revelação Fafá de Belém e um desconhecido Djavan, estavam entre os que colaboraram com as músicas. Ah, claro, já ia me esquecendo de Gal Costa com "Modinha para Gabriela" escrita por Dorival Caymmi, que ao que tudo indica, deve voltar como trilha principal nesse "remake". 
 O "bolachão" original vinha com a foto da atriz Sonia Braga e o título da novela (foto mais ao alto). O sucesso foi tão grande, que gerou um outro disco complementar: Uma Noite no Bataclan.
Dentro do álbum, vinham as ilustrações do grande pintor e desenhista Aldemir Martins (detalhe acima), que também assinava a abertura da novela (sem nada de computação gráfica). 
Pois bem, depois de tudo isso, vamos apenas aguardar a nova versão. Que responsabilidade...
Crédito das fotos: ilustração de Aldemir Martins e capa do álbum com a trilha sonoral original da novela "Gabriela" (acervo do autor). Foto de Armando Bogus e Sonia Braga foi extraida do site: retrovamoslembrar.blogspot.com.

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