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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Imagens Históricas 11: viaduto do Chá




Em 1877 existia um problema grave no centro da cidade de São Paulo: realizar a travessia do vale do Anhangabaú. Afinal de contas esse vale, por onde passava o rio que lhe deu nome (Anhangabaú na língua tupi significa "bebedouro dos demônios") e onde existiam plantações de chá, separava duas partes importantes da antiga área central. Era enorme a dificuldade para se chegar ao então conhecido morro do Chá (lado direito na foto acima), onde hoje está situado o Teatro Municipal de São Paulo (que naquela época ainda não existia). 
A iniciativa para resolver o problema coube a um cidadão francês chamado Jules André Martin. Proprietário de uma oficina litográfica (para fazer gravuras) conhecida pelo nome de "Imperial Litografia" (apesar do nome, seu proprietário era fiel às ideias republicanas), Martin era também um destacado empresário e empreendedor. Naquele mesmo ano  de 1877 ele apresentou uma proposta dirigida à Prefeitura para a construção de um viaduto atravessando o vale do Anhangabaú. O empresário se propôs a realizar a obra, mas em troca exigia o direito de cobrar um pedágio para pedestres e veículos (claro que na época os mesmos eram de tração animal) que cruzassem o novo viaduto. 
Para a execução do projeto foi constituida a Companhia Paulista Viaduto do Chá e subscritas ações para a mesma. A partir daí o projeto ganhou força e em 1888 a construção teve início. Uma armação metálica vinda da Alemanha foi encomendada para a estrutura do viaduto. Contudo, os trabalhos demoraram e em função da falta de dinheiro, os direitos da obra foram transferidos para a Companhia de Ferro Carril de São Paulo, que concluiu a construção. 
A inauguração ocorreu em 06.11.1892 com uma grande festa. Várias ruas do centro foram enfeitadas e o viaduto também. O Presidente do Estado (designação dada na época ao cargo de governador) Bernardino de Campos cortou a fita verde e amarela e atravessou o viaduto acompanhado pela multidão. Contudo, um dia após a inauguração começou a cobrança do pedágio: 60 réis para pedestres e 200 réis para bonde (com tração animal ainda). Quatro anos depois, a Câmara Municipal de São Paulo encampou o viaduto e extinguiu a tarifa que até então era cobrada dos pedestres (conhecida como pedágio dos "três vinténs") e também dos veículos. 


Cinquenta anos depois de sua inauguração o velho viaduto começou a se mostrar obsoleto para suportar o tráfego pesado. A cidade de São Paulo tornara-se um grande centro industrial e o automóvel começava a fazer parte da paisagem urbana. Um estudo feito por vários engenheiros concluiu pela necessidade de se construir um novo viaduto de concreto armado. Em 18.04.1938, o primeiro viaduto do Chá começou a ser demolido para dar lugar ao novo, que é mostrado na imagem acima, em uma foto de 1948, dez anos depois da demolição do antigo viaduto. Nesta imagem podemos notar a transformação ocorrida no morro do Chá. Do lado direito, já estava em pé o prédio da companhia de eletricidade "Light" (atualmente Shopping Light) e à esquerda o prédio modernista (ainda em obras naquele ano) que abrigou a famosa loja de departamentos "Mappin".  Na frente deste último está o Teatro Municipal de São Paulo, que não aparece nessa fotografia. 
Embora o automóvel já fizesse parte do cenário urbano, nota-se que no final da década de 1940 o centro de São Paulo era limpo e frequentado pela elite social, que lá comparecia para fazer suas compras, ir aos restaurantes e frequentar os cinemas da antiga "Cinelândia" (cujo eixo era a avenida São João). 
Um grande erro cometido pelos administradores municipais desde essa época foi a prioridade dada ao automóvel em detrimento do transporte coletivo. A cidade ainda não tinha linhas de metrô, que só começou a ser construído no final da década de 1960, quando São Paulo já se tornara uma grande metrópole. Enfim, o preço dessa política pouco racional está sendo pago até hoje e o "paradoxo dos parodoxos", quando finalmente o metrô chegou a essa região ela foi abandonada pela elite e pela classe média, que fugiram para os Jardins ou para os condomínios mais distantes. Enfim, eis a cidade pouco funcional que existe hoje. 
A foto mais acima do primeiro viaduto do Chá é de 1912 e foi tirada por Guilherme Gaensly. Já a segunda de 1948 é de autoria de Pierre Verger.
Parte das informações sobre a história do famoso viaduto (e a foto de 1912) foram consultadas em:
 http://www.facebook.com/memoriaviva

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