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quinta-feira, 29 de março de 2012

Imagens Confirmadas



Meus caros amigos e leitores deste blog. Confesso que às vezes a História me deixa com "a pulga atrás da orelha". Por isso que gosto tanto dessa disciplina, ela sempre está nos ensinando ou confirmando aquilo que sabemos ou apenas desconfiavamos saber. Pois bem, eu mesmo me questionei: o técnico Parreira foi capitão do Exército? Mesmo tendo encontrado informações que confirmassem isso, me coloquei novamente a obter "a confirmação da confirmação". Encontrei, por exemplo na Wikipédia, a biografia de nosso grande técnico (sim, pois ele foi campeão mundial) e simplesmente não encontramos dados sobre a sua vida antes de 1970. Lembra um pouco a vida de Jesus, só a conhecemos depois dos trinta... E me perguntei, estou publicando uma informação errada? Claro, fui pesquisar a respeito da origem militar de Parreira. Dois sites confirmaram a informação.  Um deles o da Revista Escola da Editora Abril, especializada em educação e trabalhos em sala de aula. Na matéria dessa revista foi proposta uma atividade aos alunos do Ensino Médio para pesquisarem a relação entre a Copa de 1970 e a disseminação das práticas esportivas no Brasil. Foi mencionado que na preparação da seleção de 1970 ocorreu um salto de qualidade na condição física dos jogadores, muito em função da pressão por vitória do Governo Militar e pelo fato dos jogos serem realizados no México, em cidades com altitudes elevadas, como Guadalajara e a Cidade do México. Segundo a matéria dessa conceituada revista, para desenvolver esse trabalho, a Confederação Brasileira de Desportos (antecessora da atual CBF) solicitou à Escola de Educação Física do Exército que fornecesse professores. Foi de lá que vieram os capitães Carlos Alberto Parreira e Claúdio Coutinho. Segundo a Revista Escola "esses militares" adotaram formas modernas de treinamento baseadas principalmente no trabalho do norte-americano Kenneth Cooper (introdutor do famoso teste de Cooper). A matéria dessa revista teve a consultoria do historiador  Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos e comentarista do Jornal da TV Cultura de São Paulo, especialista em História Contemporânea.
Por outro lado, o jornalista Milton Leite em seu livro "As Melhores Seleções Brasileiras de Todos os Tempos" (Editora Contexto, 2010) afirma que apenas dois preparadores físicos da seleção de 1970 vieram da carreira militar: Claúdio Coutinho e o futuro preparador de goleiros Raul Carlesso, que era major. Acho que o conhecido jornalista esportivo se enganou. De qualquer forma, confirma a tese de nossa postagem anterior sobre a presença de militares na Comissão Técnica da seleção. Aliás, a chefia da delegação cabia a outro militar: o major-brigadeiro da Aeronaútica Jerônimo Bastos. 
Em um outro blog, da insuspeita BBC, Parreira é designado também como capitão do Exército. Portanto, optei por manter as informações do "Imagens Históricas 5" a respeito da patente militar do futuro técnico Parreira, até que apareça uma informação definitiva em contrário. Confio nas informações da publicação da Editora Abril e da Revista Escola, que por sua vez baseia-se na Revista Veja e ainda no site da inglesa BBC.
Me pergunto, no entanto, por que razão os sites e blogs oficiais omitem a origem militar de Parreira na internet? A sua trajetória não aponta nada que o desabone, pelo contrário, foi campeão na Comissão Técnica e depois como treinador. Será que é para não ter a sua imagem pública vinculada aos tempos da Ditadura?
Cito os dois sites que colocam Carlos Alberto Parreira (na foto acima da Revista Escola, onde o mesmo é citado como capitão do Exército Brasileiro) na condiçao de oriundo da carreira militar: 



quarta-feira, 28 de março de 2012

Imagens Históricas 5: Seleção de 1970


A foto acima vai para aqueles que ainda acham que o futebol e a política não se misturam. Trata-se de uma imagem que muitos dos personagens que nela aparecem talvez não façam muita questão de sua divulgação. O ano era 1970, quando ocorreu a conquista do tricampeonato mundial de futebol por aquela que é tida até hoje como a melhor seleção que o Brasil já teve. Sim, a seleção tinha Pelé, mas também Rivelino, Gérson, Tostão entre outros craques. Aqui vemos o encontro do time e da Comissão Técnica com o então presidente, General Emílio Garrastazu Médici, antes da ida para o México. Eram os tempos da Ditadura Militar e o governo buscava tirar proveito, em termos de popularidade, com uma eventual vitória do time brasileiro, o que acabou ocorrendo. Por isso, as providências foram tomadas para assegurar que a campanha da Copa fosse bem sucedida, como por exemplo, escalar  militares para a  Comissão Técnica. A foto que estamos mostrando não deixa dúvida, pois dois ex-capitães do Exército foram preparadores físicos do time: Carlos Alberto Parreira (encoberto pelo presidente Médici na foto) e Claúdio Coutinho, à direita. Sim meus amigos, o futebol estava também "militarizado". Isso sem contarmos que, apenas 90 dias antes da Copa do México, o técnico João Saldanha, que tinha criticado a interferência do presidente na escalação do time, foi sumariamente retirado do cargo. Para o seu lugar foi convidado o ex-jogador Mario Jorge Lobo Zagallo (na foto, à esquerda), o qual manteve a escalação com as "feras do Saldanha".
Os dois capitães entraram depois para a reserva (do Exército) e seguiram a carreira como técnicos da própria seleção. O primeiro foi Claúdio Coutinho, que comandou o time na Copa da Argentina de 1978, onde o Brasil foi "campeão moral", saindo invicto do torneio, mas sem o título que ficou com a dona da casa numa armação que deu muito o que falar (só para lembrar, a Argentina também vivia uma Ditadura Militar). Coutinho ficou também conhecido como o introdutor de termos técnicos novos no futebol, como jogador "polivalente" e o "ponto futuro". O outro ex-capitão, Carlos Alberto Parreira, como é de conhecimento de todos, tornou-se campeão com a seleção brasileira em 1994 e voltou a dirigir o time em 2006.
Ah, estava me esquecendo, Pelé aparece no centro conversando com o presidente.
A foto foi publicada no jornal "Última Hora" de 29.04.1970.

sábado, 24 de março de 2012

Anúncio Antigo 9: Bambi


Que ternura!!! Que emoção!!! Um filme maravilhoso para as crianças e que faz chorar. Essa é a história de Bambi, quinto longa-metragem dos estúdios de Walt Disney e lançado nos Estados Unidos no ano de 1942 (mesmo ano do seu lançamento no Brasil), em plena Segunda Guerra Mundial. Conta as aventuras do cervo que dá nome ao filme e que passou a viver sozinho após sua mãe ter sido morta por caçadores. Estava sempre acompanhado de um coelho amigo, Tambor e apaixonou-se depois por Falina (sim amigos, ele tinha uma namorada). O desenho recebeu três indicações ao Oscar: melhor trilha sonora, melhor som e melhor canção original. A história era baseada no livro "A Life in the Woods" do austríaco Felix Salten.
Um excelente programa para o público infantil e no anúncio acima, publicado no jornal "O Estado de São Paulo" de 11.01.1970, a reprise era acompanhada de um curta sobre aves aquaticas. Era época das férias escolares e o filme  bem apropriado para a ocasião como afirma a propaganda. O desenho estava sendo exibido nos cines Astor (no mesmo local que hoje abriga a Livraria Cultura no Conjunto Nacional, situado na avenida Paulista em São Paulo) e no tradicional cine Ipiranga. Essas duas salas sempre exibiam na capital paulista os filmes dos estúdios Disney. Contudo,  como os pais iriam explicar para as crianças o filme previsto para entrar em cartaz depois: "Tem um homem na cama da mamãe". Que ternura!!! Que emoção!!! Que complicação!!!

sexta-feira, 23 de março de 2012

O Ensaio de Hitler


Até mesmo para ser um ditador fascista era preciso cuidado com a imagem. O próprio Adolf Hitler sabia muito bem disso, ele foi um pioneiro do que chamamos hoje de "marketing pessoal". Como um ator de teatro ele ensaiava as suas aparições em público e os gestos que  eventualmente poderia usar para impressionar as massas. As imagens que estamos mostrando aqui não deixam margem para dúvidas. Foram tiradas ainda no início da ascensão política do "fuhrer" (chefe ou líder) em 1925.
Era o momento em que a Alemanha começava a se recuperar da crise gerada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O Partido Nazista ainda era minúsculo e não representava uma ameaça à republica parlamentar alemã. No entanto, a Grande Depressão iniciada em 1929 nos Estados Unidos jogou a Alemanha novamente numa grave crise econômica e social. No início da década de 1930 o desemprego alcançava 6 milhões de trabalhadores alemães. Na opinião do eminente historiador Eric Hobsbawm, a Depressão teve um papel crucial na ascensão do fascismo na Alemanha. Foi a partir dela que as massas começaram a dar atenção ao discurso histriônico e irracional de Hitler. Os dados mostram isso, pois em 1924 o Partido Nazista tinha entre 2,5% a 3% do eleitorado, em 1930 subiu para mais de 18% e em 1932 possuia mais de 37% dos votos. A crise transformou Hitler em um fenômeno político e abriu caminho para o seu discurso radical. Ele soube canalizar os sentimentos de insatisfação existentes nos vários segmentos da sociedade alemã, dos desempregados aos mais ricos, com a promessa de uma retomada da expansão econômica que levaria à criação do novo império germânico ou Terceiro Reich.




No período Entreguerras a ameaça às democracias liberais vinha dos setores mais à direita do cenário político. Contudo, nem todas as forças que se opunham aos regimes democráticos liberais eram fascistas. Os exemplos das ditaduras de Salazar em Portugal e do general Franco na Espanha podem ser enquadrados nesse contexto. O caso de Getúlio Vargas no Brasil, durante o Estado Novo, também pode ser classificado dentro desse grupo. Um aspecto comum a esses regimes era a aversão aos valores da democracia liberal e ao comunismo que ameaçava subverter a ordem social.




A Itália foi o "berço" do tipo fascista de regime de direita. "Nada fora do Estado, tudo sob controle do Estado" era um de seus princípios. A sua influência sobre o nazismo foi admitida pelo próprio Hitler, inclusive no modo como Benito Mussolini se dirigia ao povo italiano. A própria palavra fascismo, derivada do termo "fascio" (um dos símbolos da antiga república romana da antiguidade) têm sua origem na Itália. Eric Hobsbawm assinala como uma das características próprias do fascismo a mobilização das massas "de baixo para cima", promovendo uma espécie de "teatro público". Tal prática era também adotada na União Soviética, em momentos comemorativos que reuniam milhares de trabalhadores, como as festividades do dia do trabalho. O fascismo não era avesso às mobilizações populares, desde que sob o controle político e ideológico do Estado personificado na figura de um líder. Daí a necessidade da propaganda e da imagem, algo que Hitler e seu ministro Joseph Goebbels souberam utilizar muito bem. Para Hobsbawm, Hitler comandou a Alemanha e seu povo com base na propaganda. Ele afirmava que ser um líder "significava excitar as massas". Isso não era feito de forma racional, mas por meio de reações e gestos histéricos e recorrendo aos sentimentos que estavam mais evidentes no povo alemão, como a descrença nos valores democráticos liberais. Fazia parte desse jogo político apontar falsos culpados pela crise, como os comunistas e os judeus, vistos como inimigos do povo alemão. Diante disso, não havia espaço para a fraqueza e o líder deveria demonstrar isso. Muitas vezes a exaltação da guerra tinha essa finalidade, mesmo sabendo-se que a mesma havia arruinado a Alemanha. Ter participado de uma guerra era uma espécie de "currículo" bem aceito entre os nazistas, uma vez que muitos deles (inclusive o próprio Hitler) eram ex-combatentes.
As fotos que aparecem aqui foram tiradas por Heinrich Hoffmann, fotógrafo particular de Hitler. Ficaram guardadas até o final da Segunda Guerra quando Hoffmann foi preso. Em 1950 o fotógrafo publicou as suas memórias, "Hitler era meu amigo" e divulgou as fotos no livro.

Para saber mais:

Hobsbawm, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. Companhia das Letras, 1995. O Capítulo 4 faz uma interessante e precisa analise da ascensão do fascismo no Entreguerras.  

quarta-feira, 21 de março de 2012

Aziz Ab'Saber

Esta semana os geógrafos (e todos nós) lamentam a perda do professor Aziz Nacib Ab'Saber, um dos grandes mestres da disciplina. Profundo conhecedor da Amazônia e do processo de devastação inútil e desenfreado que a região sofreu nas últimas décadas. Inútil no sentido de que não beneficiou sequer a população que lá vive. A Amazônia era tida erroneamente como um "espaço vazio" e disponível para a exploração capitaneada por interesses econômicos alienígenas e que não tinham compromisso com a região e mesmo com o país. Ab'Saber sempre foi uma voz a alertar para essa dilapidação que nada deixou de recompensa duradoura em termos civilizatórios. Muito pelo contrário. Mas a sua obra permanece e é um importante ponto de partida para aqueles que desejam desbravar, no bom sentido, a rica História da região. Sim, o conhecimento sobre a Amazônia passa pela Geografia, principalmente pelos seus expoentes, como o próprio Ab'Saber e pela professora Bertha Becker, entre outros.
Em memória do grande geógrafo, recomendo o blog da editora Galpão das Letras, que inaugura a coluna "Blogs que eu sigo" e apresenta, na íntegra, um Programa Roda Viva da TV Cultura com Aziz Ab'Saber. O link está abaixo:

sexta-feira, 16 de março de 2012

Estádio do Corinthians: Corintão ou Corintião?




Finalmente, aquilo que a grande torcida do Corinthians tanto aguardava: o Corintão (ou Corintião?). O estádio do Corinthians ficou pronto no início do mês de outubro de 1969. Apenas um pequeno detalhe, na maquete... Era a época do "boom" dos estádios no Brasil. Belo Horizonte já tinha o Mineirão, Porto Alegre construia o Beira Rio e Curitiba preparava o gigantesco Pinheirão, que também só ficou no projeto. Vários estádios foram levantados nas capitais do Nordeste. Naquele momento construir estádios não era problema e isso sem o Brasil sediar uma Copa do Mundo (fez apenas uma Minicopa em 1972, para celebrar o sesquicentenário da independência). O país vivia os primeiros momentos do "milagre econômico" e o Governo Militar em busca de popularidade, não poupou recursos para essas obras.
Na capital paulista, o Morumbi estava sendo ampliado, mas vejam só, ficava na "contramão", era muito longe para os padrões da época. O já tradicional Pacaembu (palavra que significa "lugar onde as pacas bebem") não comportava mais do que 60 mil pessoas e sem confôrto. Era o que constatava uma matéria da Revista Veja publicada em 02.10.1969, que anunciava o projeto do estádio do Corinthians.
O time com a maior torcida de São Paulo não queria jogar mais no Pacaembu. Daí surgiu o projeto do arquiteto Sérgio Bernardes. Deveria ser o maior e mais avançado estádio coberto do mundo (com placas de vidro que permitiriam a luz natural), capaz de receber mais de 100 mil pessoas. O projeto  previa que o grande templo do futebol fosse integrado com cinema, teatro, espaço para convenções (capaz de receber 3 mil pessoas), ringue de patinação no gêlo, duas piscinas olímpicas e para saltos ornamentais, quadras para varias modalidades esportivas (basquete, vôlei e tênis) e estacionamento coberto com capacidade para 4 mil carros. Ufa... Mas não parava aí. Contaria também com gramado suspenso e embaixo do mesmo três vestiários. Faltava apenas um pequeno detalhe: o terreno. Mas onde? Em algum lugar da marginal Tietê. Pelo menos era a promessa do então prefeito de São Paulo, brigadeiro Faria Lima (sim, aquele que dá nome à famosa avenida). Bem, como se sabe o terreno demorou anos para sair, e não na Marginal, mas sim em Itaquera.
 O prefeito Faria Lima ficou conhecido por alargar ruas, avenidas e por ter iniciado, tardiamente para a cidade de São Paulo, a construção do Metrô. Mas essa do estádio não deu para emplacar. Azar do craque corintiano Rivelino, que na época se queixava dos buracos do Pacaembu.
A foto da maquete (acima) foi publicada na mesma edição já citada da Revista Veja. Só que ficou uma dúvida: Corintão ou Corintião???

terça-feira, 13 de março de 2012

Anúncio Antigo 8: Escrava Fugida



Faltavam quase cinco anos para a escravidão ser abolida em definitivo em todo o Brasil pela conhecida lei Aúrea, assinada pela princesa Isabel em 13.05.1888. O trabalho escravo estava com os seus dias contados, uma vez que o tráfico da África para o Brasil não existia mais (abolido em 1850), já estava em vigor a Lei do Ventre Livre (desde 1871) que teve efeito praticamente nulo e foi feita, como se dizia na época, "para inglês ver". Faltava apenas a Lei do Sexagenário ou Saraiva Cotegipe, que libertava os cativos acima de 60 anos, embora com mais três anos de trabalho gratuito ao senhor como uma espécie de compensação por sua perda, antes da abolição de fato dessa forma de trabalho, assinada pela ilustre princesa. Por outro lado, a vinda dos imigrantes europeus era a alternativa para os fazendeiros ao declínio da escravidão e ganhou vulto na década de 1880. Foi exatamente nesse momento, que a escrava, do anúncio acima, resolveu fugir. Do ponto de vista senhorial, era justificada a preocupação de seu dono, uma vez que a mesma era uma mercadoria e no momento final da escravidão, o debate girava em torno da questão da indenização aos donos de escravos caso a abolição fosse confirmada. O trabalho escravo e os interesses dos fazendeiros vinculados ao mesmo foi um dos pilares do regime imperial no Brasil, que terminou um ano depois do fim da escravidão, com a proclamação da República em 1889.
Reparem como a pobre escrava é descrita no anúncio, como se fosse um objeto ou mercadoria que precisava ser recuperada. Por outro lado, era ainda nova: tinha 19 anos. Daí o seu valor. O fato de seu proprietário ter representantes em Mogi-Mirim e em Santos possivelmente indique algum vínculo com o café.
Ela se chamava "Felicidade". Talvez tenha desejado fazer jus ao seu nome e fugiu em busca da mesma.
Este anúncio foi publicado no jornal "A Província de São Paulo" (depois "O Estado de São Paulo") em 23.08.1883.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Pesquisadores 3

Hoje vamos dar uma importante indicação para todos aqueles que estudam ou se interessam pela História do Brasil no Período Imperial: o The Center for Research Libraries (CRL). Trata-se de uma organização internacional que reúne universidades e bibliotecas de vários continentes. Criada em 1949 a partir de 10 universidades norte-americanas, entre elas a Universidade de Chicago, o Instituto de Tecnologia de Illinois, a Universidade de Indiana, a Universidade do Estado de Iowa, a Universidade do Kansas, entre outras, tinha como finalidade dar apoio às pesquisas avançadas nas áreas de ciências, humanidades e ciências sociais.
O CRL adquire e preserva documentos, jornais, revistas, arquivos e outros recursos a partir de uma rede global de fontes, principalmente fora dos Estados Unidos. Uma grande parte desse material é proveniente das áreas tidas como "emergentes", como África, Oriente Médio, Ásia e América Latina. 
O  CRL dispõe de uma série de documentos relativos ao Governo Brasileiro que podem ser acessados pela internet. São eles os Relatórios dos Presidentes das Províncias (1830-1930), Mensagens Presidenciais (1889-1993) e alguns Relatórios Ministeriais (1821-1960). Além desses documentos está também disponível o famoso Almanaque Laemmert publicado no Rio de Janeiro, compreendendo os anos de 1844 a 1889. A parte relativa ao Brasil foi fruto de um projeto, o The Latin American Microform Project (LAMP) de 1994, feito em cooperação com a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro que selecionou a documentação. O material foi escaneado a partir de cópias em microfilme dos originais. Esse projeto contou com o apoio da Fundação Andrew W. Mellon. Trata-se de um acervo valioso que está disponível on-line e cobre praticamente todas as províncias do Império Brasileiro, inclusive as do Norte, com informações fundamentais do ponto de vista político, econômico e social.
O link para ir direto a esse acervo de documentos relativos ao Brasil é:

sexta-feira, 2 de março de 2012

Anúncio Antigo 7: Copa do Mundo 1970


O ano: 1970. Copa do Mundo no México, a primeira a ser transmitida via satélite ao vivo. O anúncio da TV Globo destacava o jogo entre Brasil e Inglaterra "dentro" do programa Silvio Santos, que na época pagava a peso de ouro o seu horário dominical na emissora de Roberto Marinho. O conhecido "animador"  mais tarde abriu o seu próprio canal de televisão. Mas isto é uma outra história... Aqui temos uma etapa importante do caminho vitorioso do Brasil rumo ao tricampeonato de futebol e a conquista definitiva da taça Jules Rimet (que depois foi roubada também em definitivo). Jogo muito aguardado, afinal a Inglaterra era a campeã mundial daquela época. O Brasil conseguiu uma vitória de 1 a 0 com gol de Jairzinho, o "Furacão" da copa.
Na narração, Geraldo José de Almeida, que ficou famoso com o grito de gol: "Olha lá, olha lá, olha lá no placar...". E os comentários eram do ex-técnico João Saldanha, que pouco tempo antes saiu do comando da seleção (ou foi "saido"?).
Tempos terríveis da Ditadura Militar, os "anos de chumbo"  no governo do presidente Médici. Mas, naquele 07.06.1970 o centro das atenções era a Copa do Mundo. O anúncio fazia uma ressalva, após o jogo, Silvio Santos estaria de volta e prolongaria o seu programa até as 10 horas da noite (e começava às 11 horas da manhã) e depois entrava a Buzina do Chacrinha.
Este anúncio foi publicado no jornal O Estado de São Paulo no mesmo dia do jogo.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Imagens Históricas 4: Marquesa de Santos



Por esta nem o aclamado escritor e jornalista Laurentino Gomes esperava. Sim, porque em seu  recente livro "1822" ele faz referência ao retrato mais famoso da marquesa de Santos como sendo o quadro do pintor Francisco Pedro do Amaral que se encontra na Academia Imperial de Belas Artes (foto abaixo). Contudo, conhecemos uma fotografia da dona Domitila de Castro Canto e Melo, a quem  D. Pedro I concedeu o título de marquesa de Santos, pertencente à coleção Pedro Oliveira Ribeiro. Não há informações precisas da data dessa foto, onde ela está acompanhada de dois de seus netos. Muito provavelmente é próxima da época em que a nossa personagem faleceu.
Interessante uma comparação entre a pintura e a fotografia, pois a primeira revela um rosto com traços precisos e bem definidos e a imagem fotográfica confirma essas características. As descrições feitas da marquesa de Santos, na época em que a mesma estava envolvida num turbulento caso amoroso com nosso primeiro imperador, também confirmam esses traços. Um "ar sério e enigmático" como o próprio Laurentino descreve em seu livro.




Foi uma fase conturbada para o nosso país: a consolidação do mesmo como Estado Nacional. O romance de D. Pedro I com a marquesa de Santos durou de 1822 a 1829, ou seja, a maior parte do Primeiro Reinado. Os conflitos nas províncias, a Assembléia Constituite que foi dissolvida pelo imperador, a outorga da Constituição e a oposição liberal à mesma fizeram parte do cenário conturbado dos primeiros anos pós-independência. Isso sem contar a situação econômica deficitária herdada da era colonial.
O caso entre Domitila e D. Pedro foi tempestuoso. O imperador levou a amante para conviver ao lado da imperatriz Leopoldina na própria corte no Rio de Janeiro. Para muitos a morte prematura da imperatriz em 1826 teve relação com os desgostos sofridos aqui no Brasil diante do marido adúltero e longe de sua terra natal, a Aústria. O casamento oficial entre D.Pedro e Leopoldina foi fruto de arranjos diplomáticos com a Dinastia dos Habsburgos, uma das mais importantes da Europa.
Muitos hoje imaginam que com a morte da esposa, o caminho estaria livre para o romance entre Domitila e Pedro, o "Demonão" como era referido nas cartas ardentes trocadas pelo casal e que chegaram até nós. Contudo, estavamos em uma monarquia e o país precisava de uma nova imperatriz de boa estirpe e que fosse de uma corte européia. Mas a fama de mulherengo atribuida a nosso imperador correu os quatros cantos do mundo e as propostas enviadas por nossos emissários na Europa para as princesas disponíveis eram recusadas uma após a outra. Mas, eis que surge uma pretendente: Amélia Augusta Eugênia Napoleona de Beauharnais, neta de Josefina, primeira esposa de Napoleão Bonaparte. Não pertencia à alta nobreza, mas para a felicidade de D.Pedro, era jovem e bonita. Mas, este arranjo teve um preço: o afastamento de Domitila de Castro da vida do imperador. O rompimento ocorreu em 1829 e o arranjo matrimonial que nos deu a nossa segunda imperatriz foi concretizado.
Praticamente expulsa da corte, a marquesa de Santos retornou à sua terra natal, que não era Santos e sim a cidade de São Paulo. Passou depois uma temporada em Sorocaba na companhia de seu último marido, o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, destacado líder liberal paulista. Por intermédio desta  figura, Domitila tornou-se importante na sociedade local, fixando residência na cidade de São Paulo em um belo solar (um tipo de mansão) que pode ser visitado no centro histórico da capital paulista, ao lado do pátio do colégio onde a cidade nasceu. A marquesa de Santos faleceu em 1867, aos 70 anos.
Embora contenha algumas pequenas partes com imprecisões históricas, que em outra oportunidade iremos comentar, o livro de Laurentino Gomes serve como uma agradável leitura informativa a respeito do Primeiro Reinado (1822-1831).
A foto com a marquesa de Santos e seus netos foi extraida da Coleção Grandes Personagens da Nossa História, publicada em 1969 pela Abril Cultural e se encontra na página 315.

Para saber mais:
Gomes, Laurentino. 1822. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2010.